Na última semana, tive a oportunidade de conhecer Halifax, uma cidade de aproximadamente 400 mil habitantes, que é a capital da província canadense da Nova Escócia. É a porta de saída do Canadá para o Oceano Atlântico. Seu porto tem um papel fundamental para a economia da região e teve papel relevante em 15 de abril de 1912, quando houve o naufrágio do navio Titanic. Foi de lá que saíram os primeiros navios para ajudar no resgate das vítimas.
A cidade de Halifax com suas histórias do Titanic me fez lembrar da frase de Mário Quintana: "Para sempre é muito tempo. O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo".
A cidade tem como principais pontos turísticos o museu marítimo, que tem uma parte dedicada ao Titanic, com alguns objetos que foram recuperados do próprio navio, bem como o cemitério, denominado Fairview, porque nele foram enterradas 110 das 1.517 vítimas do naufrágio. A lápide mais visitada do cemitério é a de J. Dawson, que foi inspiração para o nome usado pelo personagem de Leonardo DiCaprio no filme Titanic, de James Cameron, que foi uma das maiores bilheterias da década de 90 e que recebeu 11 das 14 indicações para o Oscar.
Mas o mais impressionante de tudo é que a cidade dá ao evento do naufrágio uma importância que vai além de uma história ou de um drama. Ele está vivo no consciente dos seus habitantes, que falam sobre o evento com profunda tristeza, pelo fato de que várias vítimas que foram enterradas na cidade não eram moradoras da região, mas pessoas sem qualquer identificação e que jamais tiveram seus corpos reivindicados.
Apenas 31,6% dos 2.223 passageiros sobreviveram ao naufrágio, devido à inexistência de número suficiente de botes salva-vidas e pelo fato de que nem todos os botes, no momento do naufrágio, foram ocupados em sua capacidade máxima. Poucos naufrágios marcaram tanto como o do Titanic e por isso o navio acabou entrando para a história como um dos mais famosos de todos os tempos.
Por mais de cem anos, ele tem sido a inspiração para obras de ficção e não ficção. O navio partiu de Southampton com destino a Nova York, mas afundou após três dias de navegação ao colidir com um iceberg. Havia passageiros da primeira e segunda classe nos andares superiores, pessoas abastadas que desejavam participar da viagem inaugural do navio mais luxuoso do mundo.
No entanto, a maior parte dos passageiros eram da terceira classe, que ocupava os andares inferiores do navio. A terceira classe era composta por imigrantes que viajavam em grandes grupos familiares e vinham de diferentes locais como Irlanda, Escandinávia, Leste Europeu e até mesmo da Ásia. Muitos deles jovens que esperavam encontrar na América um novo mundo e a oportunidade de ter uma nova vida. Contudo, as lápides do cemitério da cidade reproduzem o encerramento de um sonho, de experiências não vividas e de lugares não conhecidos. Não muito diferente dos sonhos daqueles que naufragam no Mediterrâneo. Alguns movidos pela necessidade de escapar da miséria; outros para fugir da violência e perseguição.
De regra, as jornadas são cheias de perigos. Pelos dados dos governos da Europa, estima-se que pelo menos 23 mil pessoas tenham perdido suas vidas tentando chegar à Europa desde 2000. E aqueles que conseguiram atingir as fronteiras da União Europeia descobrem que a segurança permanece fora do seu alcance.